Estou naquelas fases / dias que preciso concentrar-me bastante para não ir abaixo. Leio coisas que deveriam provocar-me sorrisos, que deveriam dar-me alento, mas a angústia quer instalar-se no peito.
Depois de finalmente ter mudado de casa, de termos espaço para nós e para a nossa menina, depois de termos decidido que afinal a estadia em Londres vai de facto prolongar-se, depois de termos a certeza que iremos ter ajuda familiar em permanência, talvez (in)conscientemente me sinta mais longe de casa.
Ao ver as imagens de Portugal, dos locais onde nasci e cresci, onde me identifico, sinto que estou a perder a ligação ao meu canto. Não a ligação cultural ou emocional, mas a física. E essa distância dói.
Continuo a olhar para as pessoas no seu meio, e acho que essas pessoas não entendem a sorte que têm, o privilégio que é poderem misturar-se com a calçada portuguesa, com o céu azul, com o mar e o seu cheiro; com as pessoas a expressarem-se sempre na sua língua mãe. Não há dinheiro que pague esse conforto! Mas não é fácil encontrar uma forma de sobrevivência digna.
Olho para a minha menina e sinto a maior tristeza em pensar que ela se está a desenvolver fora de Portugal, a criar raízes em Inglaterra, noutra língua que não a nossa.
Dói não reconhecer muitas histórias que a Maria João aprende e que não fazem parte da minha infância. Por outro lado tenho o maior orgulho no seu desenvolvimento, na sua capacidade de absorção de informação em duas línguas. Não quero, contudo, que ela se esqueça que é portuguesa, onde nasceu e para onde nós possamos levá-la o mais brevemente possível.
Ontem escrevi que me sinto exilada em Londres, não por questões políticas, mas por mera questão financeira. Não consigo voltar... Não podemos correr esse risco com a nossa menina.