quarta-feira, 29 de maio de 2013

Escrita

A minha escrita não é bonita, não é engraçada, não é bem estruturada, não é inspiradora, não tem assuntos intelectuais, não fala sobre a actualidade, quase ninguém sabe dela! Mas deixa-me mais leve. Permite-me libertar as energias negativas que passam por mim e permite-me sorrir mais, ter mais paciência! Deixa-me sonhar que um dia possa dedicar-me apenas aos que amo.
A minha escrita não traz nada ao mundo, mas traz-me algum conforto. Gostaria que a minha escrita conseguisse organizar-me. Para já conseguiu que eu ultrapassasse a inibição de escrever. E para já é a minha pequena vitória!

terça-feira, 28 de maio de 2013

Do Fim de Semana

Este fim de semana foi inesperado em tudo: o tempo esteve óptimo, ao contrário do que estava previsto, limpei a casa muito mais depressa do que imaginara ser possível, já que a casa agora é muitíssimo maior, combinamos um churrasco à última da hora com amigos portugueses. Não me dediquei às tarefas domésticas todas, não me dediquei aos meus trabalhos manuais.
Tive imensas saudades de Portugal; chorei por causa dessas saudades enquanto ouvia Fado, diverti-me. A minha filha estava radiante com a companhia dos amigos.
Acho que este fim de semana foi um exemplo perfeito do que me pode esperar nos próximos tempos em Inglaterra: a emigração tem o seu lado positivo e o seu lado negativo. Só desejo que eu tenha a maturidade suficiente para valorizar o lado bom das coisas: o que tenho em Londres, as memórias do tempo que vivi em Portugal e ao mesmo tempo conviver pacificamente com a vontade e o objectivo que nos têm dado força para encarar o dia-a-dia: o regresso a sul!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Língua Materna

Aprendi muito cedo que língua mãe é a minha verdadeira zona de conforto. É a minha identidade, a minha cultura, o meu porto seguro, a minha casa, o meu aconchego. Esta consciencialização deu-se cedo na minha vida. Deu-se na escola onde as aulas eram em alemão, e onde comecei a cansar-me de sentir que não me expressava na minha plenitude. Ou acabava por não falar, ou sentia que não me fazia entender. Não sentia as palavras, o seu significado e conceito e sentia que as pessoas não sentiam o que eu queria transmitir.
Hoje sinto o mesmo. Hoje que vivo em Londres, que até trabalho em português, sinto o mesmo. E cansa-me, deixa-me com a sensação de isolamento.
Mesmo no meio laboral, onde me posso exprimir em português, nem sempre sou compreendida. Os meus colegas brasileiros podem perceber as palavras, mas não entendem a carga cultural que as minhas palavras carregam. E isso cansa-me tanto...
Tenho receio que a minha filha sinta o mesmo. Vejo que ela se expressa num tom mais baixo quando fala em inglês com outras crianças, talves por saber que não é a sua língua. Parece-me que se sente mais à vontade, menos tímida, quando lida com crianças portuguesas.
Tenho receio que ela se sinta isolada, sem ainda se aperceber desse isolamento; tenho receio do que possa despoletar na sua personalidade. Tenho receio que sinta que esse isolamento seja natural, seja normal...
Eu adoro poder comunicar em línguas diferentes, mas prefiro o dia-a-dia na minha língua, na minha identidade, na minha zona de conforto!

Mais do Mesmo

Estou naquelas fases / dias que preciso concentrar-me bastante para não ir abaixo. Leio coisas que deveriam provocar-me sorrisos, que deveriam dar-me alento, mas a angústia quer instalar-se no peito.
Depois de finalmente ter mudado de casa, de termos espaço para nós e para a nossa menina, depois de termos decidido que afinal a estadia em Londres vai de facto prolongar-se, depois de termos a certeza que iremos ter ajuda familiar em permanência, talvez (in)conscientemente me sinta mais longe de casa.
Ao ver as imagens de Portugal, dos locais onde nasci e cresci, onde me identifico, sinto que estou a perder a ligação ao meu canto. Não a ligação cultural ou emocional, mas a física. E essa distância dói.
Continuo a olhar para as pessoas no seu meio, e acho que essas pessoas não entendem a sorte que têm, o privilégio que é poderem misturar-se com a calçada portuguesa, com o céu azul, com o mar e o seu cheiro; com as pessoas a expressarem-se sempre na sua língua mãe. Não há dinheiro que pague esse conforto! Mas não é fácil encontrar uma forma de sobrevivência digna.
Olho para a minha menina e sinto a maior tristeza em pensar que ela se está a desenvolver fora de Portugal, a criar raízes em Inglaterra, noutra língua que não a nossa.
Dói não reconhecer muitas histórias que a Maria João aprende e que não fazem parte da minha infância. Por outro lado tenho o maior orgulho no seu desenvolvimento, na sua capacidade de absorção de informação em duas línguas. Não quero, contudo, que ela se esqueça que é portuguesa, onde nasceu e para onde nós possamos levá-la o mais brevemente possível.
Ontem escrevi que me sinto exilada em Londres, não por questões políticas, mas por mera questão financeira. Não consigo voltar... Não podemos correr esse risco com a nossa menina.